A Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, na Região Central de Minas Gerais, suspendeu atividades relacionadas ao livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, nas escolas da cidade. A decisão ocorreu após pressão de pais que consideraram o conteúdo da obra “agressivo”.
Publicado em 1986, “O Menino Marrom” narra a história de dois amigos, um negro e um branco, que buscam entender juntos as cores e suas implicações. Alguns pais apontaram que trechos do texto poderiam induzir as crianças “a fazer maldade”. Um trecho específico, onde os meninos falam sobre fazer um pacto de sangue, gerou controvérsia:
“‘Temos que fazer o pacto de sangue!’. Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos. Ficaram os dois com as pontas do fura bolos cheias de tinta azul.”
Outro trecho controverso envolve um pensamento negativo do protagonista em relação a uma velhinha que não aceitou sua ajuda para atravessar a rua.
Reações Diversas
A decisão de suspender o livro gerou reações variadas entre pais e professores. Marta Glória Barbosa, professora de português, criticou a medida:
“É preocupante. Sou professora de português, então, qualquer retirada de livro, para mim, é o cúmulo do absurdo. O livro é espetacular, escrito pelo Ziraldo, que é nosso. Não vejo nenhuma justificativa para essa suspensão”, afirmou.
Nas redes sociais da prefeitura, houve tanto apoio quanto críticas à decisão. Uma usuária comentou: “Não dá pra acreditar que em 2024 estamos censurando Ziraldo. Esse país está perdido mesmo”, enquanto outra elogiou a medida: “Parabéns aos pais que se preocupam e acompanham de perto a educação de seus filhos”.
Posicionamento da Prefeitura
Em nota publicada nas redes sociais, a prefeitura de Conselheiro Lafaiete ressaltou o valor do livro de Ziraldo na educação, destacando seu papel na promoção de discussões sobre respeito às diferenças e igualdade. No entanto, diante das manifestações e divergências de opiniões, a Secretaria Municipal de Educação solicitou a suspensão temporária dos trabalhos com a obra, visando uma melhor readequação da abordagem pedagógica para evitar interpretações equivocadas.
“A literatura não pode ser tomada como um código de conduta, de moral e bons costumes. A literatura é arte, uma coisa que vai muito além disso. No máximo, um tema como esse pode ser tomado como um pretexto para um debate amplo e civilizado, que vai promover mais conhecimento”, declarou a prefeitura.
Legado de Ziraldo
Ziraldo Alves Pinto, mineiro, faleceu em abril passado aos 91 anos. Foi escritor, desenhista, chargista, caricaturista e jornalista, além de ser um dos fundadores do jornal “O Pasquim”, nos anos 1960. Publicou seu primeiro livro infantil, “FLICTS”, em 1969, e dedicou-se à literatura infantil a partir de 1979. “O Menino Maluquinho”, lançado em 1980, é um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.
A suspensão de “O Menino Marrom” em Conselheiro Lafaiete traz à tona um debate importante sobre a interpretação e o papel da literatura infantil na educação, destacando a necessidade de diálogo entre educadores, pais e a comunidade sobre os temas abordados nos livros escolares.