No Espírito Santo, cerca de 24,5% das pessoas com 60 anos ou mais permanecem ocupadas, o que representa mais de 160 mil idosos trabalhando. Esse dado revela uma tendência crescente: ao mesmo tempo em que a população envelhece, um número cada vez maior de idosos decide ou precisa continuar trabalhando — seja por necessidade financeira, por desejo de seguir produtivo ou por buscar autonomia e convívio social.

Entre os casos que ilustram essa realidade está o de José Roberto, 73 anos, que há duas décadas mantém uma rotina diária vendendo pizzas em uma praça de Vitória. Para ele, o trabalho não apenas complementa a aposentadoria, mas também oferece dignidade, interação e independência — elementos valorizados por quem opta por permanecer na ativa mesmo na terceira idade.

Volta ao trabalho: por que muitos idosos optam por continuar ativos

Para uma parcela significativa dos idosos, a aposentadoria sozinha nem sempre garante renda suficiente ou estabilidade financeira. A insuficiência nos benefícios previdenciários e a elevação do custo de vida são fatores centrais que impulsionam a permanência no mercado de trabalho. Além disso, há quem busque manter-se produtivo, ativo e conectado com a sociedade, o que contribui para o bem-estar e reduz o risco de isolamento.

No Espírito Santo, o trabalho entre idosos ocorre em diferentes formas: muitos atuam informalmente, como autônomos, vendedores ambulantes ou comerciantes pequenos; outros se inserem em atividades formais. A diversidade de vínculos garante flexibilidade, mas também evidencia a disparidade de condições: trabalho informal, renda variável e ausência de proteção social adequada continuam presentes.

Envelhecimento ativo e desafios do mercado de trabalho

O aumento da participação de idosos no mercado de trabalho reflete uma transição demográfica mais ampla, que coloca o envelhecimento da população como desafio central para o Estado e para a sociedade. Ao mesmo tempo em que se busca garantir qualidade de vida, saúde e inclusão, é necessário repensar as estruturas laborais: adaptar ambientes, flexibilizar horários e valorizar a experiência acumulada ao longo dos anos.

Por outro lado, há obstáculos importantes. O preconceito etário — o etarismo — ainda influencia decisões de contratação e permanência de pessoas mais velhas. Barreiras de acesso a empregos formais, exigências de qualificação, e a informalidade predominante entre os idosos ocupados são desafios persistentes. Muitos daqueles que retornam ou permanecem no trabalho vivem com insegurança quanto à estabilidade, à aposentadoria e aos direitos trabalhistas.

Impactos socioeconômicos e dignidade na terceira idade

Para além da renda, a inclusão dos idosos no mercado de trabalho tem implicações simbólicas e sociais. Trabalhar na maturidade pode representar autonomia, autoestima e participação na vida comunitária — algo que muitos aposentados perdem ao deixar o mercado formal. A atividade, muitas vezes modesta, ganha valor como forma de dignidade e conexão com o cotidiano.

No Espírito Santo, esse fenômeno contribui para aliviar a pressão sobre a previdência e os sistemas de assistência social, mas não se reduz a uma mera necessidade econômica: é expressão de uma sociedade que envelhece, que busca reinventar o significado da velhice, e que valoriza a experiência e a capacidade produtiva de quem tem mais tempo de vida e história.

Um retrato da transformação demográfica

Os dados sobre emprego na terceira idade revelam que a vida após os 60 anos está longe de ser sinônimo de aposentadoria tranquila ou retirada definitiva do cotidiano profissional. Ao contrário: para muitos, é uma etapa marcada por adaptação, resiliência e nova inserção social. E, no Espírito Santo, o trabalho continua sendo uma ponte que conecta passado e presente — para garantir não apenas sustento, mas dignidade, propósito e respeito à contribuição de quem viveu e trabalhou décadas.

A transformação demográfica impõe desafios, mas também abre portas para um novo olhar sobre o envelhecimento. O envelhecimento ativo, com oportunidades de emprego e inclusão, é um caminho para reafirmar que a velhice pode — e deve — ser parte ativa da vida socioeconômica.

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